O povo das parábolas - A Galileia no tempo de Jesus
Por: Eliseu Wisniewski
Qual era o mundo social, político e religioso dos personagens que povoam as parábolas de Jesus? Responder essa pergunta é a tarefa da obra O povo das parábolas - A Galileia no tempo de Jesus, escrita por R. Alan Culpepper. O referido autor é doutor pela Duke University e foi reitor da McAfee School of Theology, e editor de importantes periódicos acadêmicos na área bíblica. Além disso, é também um estudioso do Novo Testamento, com destaque especial nos estudos joaninos e na pesquisa sobre o contexto histórico de Jesus.
O foco do livro estruturado em sete partes divididos em vinte e um capítulos não é explicar as parábolas em si, mas, mostrar quem era o povo da Galileia, as pessoas que Jesus conhecia e com quem ele convivia. Culpepper acredita que quanto mais aprendemos sobre a vida, as condições e o cotidiano dessas pessoas na Galileia do primeiro século, mais claras e vívidas ficam as histórias e as parábolas de Jesus.
Tendo em conta a atenção de outros estudiosos e o fluxo de importantes obras que situavam Jesus em seu contexto judaico e galilaico, o objetivo do autor consiste em reunir as descobertas mais importantes e novas perspectivas dos últimos cinquenta anos para torná-las acessíveis a estudantes e estudiosos que trabalham em outras áreas, já que muitas delas foram publicadas em volumes técnicos e revistas especializadas,
Nesta perspectiva, Culpepper, reconstrói uma história bem detalhada e acessível sobre a vida das pessoas que viviam na Galileia do primeiro século, como aparecem nas parábolas de Jesus. Ele fala de crianças, mulheres, mães, filhas, viúvas, pais, filhos, proprietários de terras, arrendatários, agricultores, pescadores, comerciantes, viajantes, e de figuras como cobradores de impostos, juízes, fariseus, sacerdotes, samaritanos e bandidos. Essas pessoas tinham seus lugares na sociedade, suas formas de viver, socializar, adorar e fazer negócios. O autor explica tudo isso de uma maneira simples, sem usar linguagem técnica, para que qualquer pessoa possa entender.
Para Culpepper, o mundo social, político e religioso dos personagens das parábolas de Jesus era bastante complexo e influenciado pelo contexto da Palestina do século I. As descobertas arqueológicas e os avanços historiográficos dos últimos cinquenta anos ajudaram a entender melhor esse cenário, que incluía uma sociedade marcada por diferenças de classe, tensões políticas sob o domínio romano e uma forte religiosidade judaica. Esses elementos são essenciais para interpretar as parábolas, pois refletem as realidades e desafios enfrentados pelas pessoas na época de Jesus. Assim, ele ajuda a dar novos significados às parábolas, mostrando quem eram essas pessoas e como elas viviam, o que torna as histórias de Jesus mais próximas da nossa realidade hoje.
Culpepper amplia o escopo das pesquisas bíblicas, que anteriormente eram restritas ao meio acadêmico. Ao integrar estudos que vão além do ambiente acadêmico tradicional, ele possibilita uma compreensão mais aprofundada e contextualizada do ministério de Jesus e do universo simbólico presente nas parábolas. Essa abordagem enriquece o trabalho exegético (interpretação detalhada dos textos bíblicos) e hermenêutico (teoria da interpretação), pois permite incorporar perspectivas diversas, incluindo contextos culturais, sociais e históricos mais amplos. Assim, estudiosos podem obter insights mais completos sobre as mensagens de Jesus, suas intenções e o significado simbólico das parábolas, facilitando uma leitura mais fiel e relevante para diferentes públicos.
Trata-se, portanto, de uma obra indispensável para estudiosos, estudantes e leitores engajados na pesquisa bíblica contemporânea. Culpepper oferece uma interpretação inovadora das parábolas, conectando-as ao contexto social e cultural do povo da Galileia na época de Jesus. Ao fazer isso, ele ajuda os leitores modernos a compreenderem melhor as mensagens subjacentes dessas histórias, destacando aspectos como as dinâmicas sociais, as condições econômicas e as experiências cotidianas dos habitantes daquela região. Essa abordagem enriquece a compreensão das parábolas, mostrando que elas não eram apenas ensinamentos espirituais, mas também reflexões sobre a vida e os desafios do povo galileu, tornando suas lições mais relevantes e acessíveis para o público de hoje.
Eliseu Wisniewski é presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
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