Aprendizagem socioemocional

Por: Solimar Silva

 

Sou professora de adolescentes há quase trinta anos. Cada vez mais tenho percebido a fragilidade emocional dos nossos alunos diante de um mundo tão conturbado. E isso foi intensificado com a pandemia. Dois anos sem interação social, laços de amizade mais fortes, contato pessoal, acrescentando-se ainda o medo constante e as perdas que algumas famílias sofreram. E a tecnologia que, se por um lado é uma bênção, qualquer um que tenha um adolescente em casa ou na escola sabe que pode ser muito perigoso para o desenvolvimento socioemocional da criança e adolescente.

Existem diferentes estudos e práticas internacionais e nacionais voltadas ao trabalho com competências socioemocionais (por exemplo: OCDE, Casel, Wida, Center for Curriculum Redesign, e até o próprio MEC). Além do estudo e disseminação do conhecimento, diferentes avaliações de grande escala contemplam as competências socioemocionais, como o PISA (Programme for International Student Assessment) e o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).

Promover o desenvolvimento das habilidades socioemocionais é de extrema importância para o bem-estar e sucesso dos alunos, pois essas habilidades estão diretamente relacionadas ao seu crescimento emocional, social e acadêmico. Listo abaixo algumas razões pelas quais é essencial promover o desenvolvimento das habilidades socioemocionais:

1. Bem-estar emocional: As habilidades socioemocionais ajudam os alunos a entenderem e gerenciarem suas emoções, desenvolvendo resiliência e lidando de forma saudável com o estresse e a pressão.

2. Relacionamentos saudáveis: O desenvolvimento das habilidades socioemocionais permite que os alunos estabeleçam relacionamentos positivos, construtivos e respeitosos com seus colegas, professores e outras pessoas em suas vidas.

3. Habilidades de comunicação: As habilidades socioemocionais aprimoram a capacidade dos alunos de se expressarem de forma clara e eficaz, tanto verbalmente quanto por meio de linguagem corporal, promovendo uma melhor comunicação e entendimento mútuo.

4. Resolução de conflitos: O desenvolvimento das habilidades socioemocionais capacita os alunos a resolverem conflitos de maneira pacífica, encontrando soluções que sejam justas e mutuamente satisfatórias.

5. Autoconfiança e motivação: O crescimento nas habilidades socioemocionais ajuda os alunos a desenvolverem uma maior autoconfiança, autoestima e motivação, permitindo que eles enfrentem desafios com determinação e persistência.

Mesmo já adultos e supostamente termos desenvolvido mais fortemente habilidades socioemocionais, não raro vemos a necessidade de nós mesmos aprimorarmos nossa inteligência emocional para tomarmos melhores decisões, fortalecermos nossa resiliência para enfrentar momentos de crise, lidarmos com conflito e acolhermos as emoções de nossos alunos. Muitos de nós sequer tivemos educação voltada para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e a conta tem chegado bastante alta para todos nós.

 

BNCC Competências gerais educação básica

 

Importante destacar que a aprendizagem emocional não é apenas mais um assunto da moda ou algo que foi inventado para aumentar nosso trabalho. Desenvolver competências socioemocionais subjaz nossa prática no magistério desde a educação infantil. No texto da Base Nacional Curricular Comum, lemos:

 

COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

 

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 

4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.”

 

O livro Aprendizagem Socioemocional: Atividades práticas para a sala de aula visa oferecer atividades práticas para que possamos desenvolver competências socioemocionais dos nossos alunos em cinco áreas: autoconhecimento, autorregulação, tomada de decisões responsáveis, habilidades de relacionamento e consciência social. 

São 12 atividades para cada uma das habilidades socioemocionais apresentadas de forma fácil e organizada para serem colocadas em prática mesmo nas salas mais numerosas ou sem muitos recursos disponíveis. 

Além disso, apresenta uma seção com 12 atividades de autocuidado para nós, professores.  Afinal, como desenvolver as habilidades socioemocionais dos nossos alunos sem cuidar de nós mesmos?

Com abordagem leve, linguagem acessível de quem vive a realidade da sala de aula e organização que permite que qualquer docente possa promover a aprendizagem socioemocional em suas aulas, esse é um livro indispensável para quem entende que aprender vai muito além de habilidades cognitivas.

 

 

 

Durante décadas como professora, da educação básica à pós-graduação, Solimar Silva tem se debruçado sobre criatividade, dinamismo e competências socioemocionais de professores e alunos. Dirige a Workafrolic – Treinamento e Desenvolvimento, levando palestras e cursos para escolas, secretarias de educação e empresas. Doutora em Linguística Aplicada pela UFRJ e mestra em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio, tem vários livros publicados, tanto literários quanto de desenvolvimento pessoal e pedagógicos. Pela Editora Vozes é autora de Avaliações mais criativas, Oficina de escrita criativa, 50 atitudes do professor de sucesso, além de livros de dinâmicas e jogos para aulas.